Estou sentado de baixo da velha árvore em uma mesa de uma
madeira bem antiga, onde talvez fosse local de reunião de antigos almoços de família
que meu avô realizava. Ao meu lado está uma borboleta de asas brancas
transparentes com pequenos riscos demonstrando quantos ares já pegara por esse
imenso céu de Deus. John Keats saberia como descrevê-la melhor, afinal sua
amada caçava-as e guardava-as como sinal de seu amor de primavera eterna. A
borboleta de algum modo me anima a dar um sorriso, ela possui um dom que talvez
eu nunca conheça nesse mundo terreno, o de voar. Eu a invejo, mas ela também
deve invejar nossa capacidade locomotora e também deve rir de nossos erros tão
estúpidos aos olhos da mãe natureza, o desmatamento e as fogueiras são exemplos
de nossa acéfala humanidade atual. Ela continua ao meu lado, espero que não a
perturbe com meus devaneios esporádicos do dia de hoje. Quando eu morava em Angra
dos Reis tinha apenas 2 dias de 15 em 15 dias para visitar meus avôs em Volta
Redonda, muitos desses finais de semana eu escolhia passar nesse sítio.
Lembro-me do dia que meu avô me trouxe pela primeira vez. Uma chácara com terra
batida, vários pés de jabuticaba, acerola, caqui e fruta do conde, uma pequena
casa do caseiro e uma casinha ao fundo na área mais alta. Isso faz tempo.
Quando começaram as construções e os aprimoramentos, tive que me ausentar. A
surpresa da construção da casa, toda a estrutura de muito bom gosto (a casa foi
copiada por dois moradores da vizinhança, apenas para ressalto), uma capela bem
delicada que possui a sombra mais privilegiada do terreno e como a meu gosto e
vontade, pude ter meus cachorros. Foram bons momentos aqui: a banheira de hidro
no banheiro (que criança que nunca gostou disso?), a lareira na sala nos dias
de inverno antigo, o vídeo kê na grande televisão, a boa comida sempre bem
preparada pela minha avó, a casa dos meus sonhos e de muitas outras pessoas. Eu
gostava mais de vir para cá por causa dos cachorros, eu não tinha cachorro onde
morava e cachorros sempre foi uma das minhas paixões. Os dias eram ordinários,
era sempre eu sozinho, eu era uma criança chata, mimada e birrenta, só os
cachorros e pessoas que realmente gostavam de mim me aturavam. O campo de
futebol sempre fora palcos de muitas reuniões de amigos de meu tio, pai e avô.
Com o passar do tempo eu vinha para cá para fugir de alguns problemas
decorrentes da puberdade e agora fujo pela maioridade. Deitava-me sobre as
escadas que davam até a capela escutando uma boa música e pensava, pensava,
pensava. Foi naquelas escadas onde namorei ao telefone com as pessoas que mais
amei, naquela escada onde me escondia do povo da casa, a mesma escada onde eu e
a minha grande amiga do passado pudemos conversar e rir de nossas próprias
besteiras e a qual julgamos que um dia voltaríamos até lá para podermos fazer
isso tudo novamente, só que com novos assuntos, novos descobrimentos, nova
personalidade. “A time to myself” foi o lema daquele final de semana, creio que
ela nem se lembra mais, cai uma lágrima em meu rosto. Hoje voltando a esse
mesmo lugar lotado de bons momentos, pude ver que as coisas mudaram, os tempos
são outros, mas quando olho a casa no alto do terreno, relembro dos momentos
que ali foram vividos com plena alegria, isso me conforta, idéias borbulham em
minha cabeça como água quente em uma chaleira. Este é o lugar que desperta a
nostalgia em todo ser humano, o lugar que devo ficar pelo menos uma semana. “-
Arrozal, I came back! What’s up?”
"Então você escreve por reconhecimento interior e externo mundano, compartilhamento de informações seja por vontade, seja por carência. Escreve, pois precisa ter alguém nem que seja sua mãe para ler suas anedotas, escreve, pois é algo que você nunca sentiu prazer e excitação e agora, sem explicar o porquê sente-se completamente feliz, como se fosse o seu momento,escreve porque as palavras brotam de sua mente sem explicação."
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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