Acordando em um quarto de hotel de frente para o modesto
píer da rica cidade de Punta Del Est, Theodor avista seu barco alugado pela sua
empresa sendo abastecido por um empregado que parecia ser indonésio. Já perdera
a hora do café da manhã, a única maneira era botar na mochila: seu notebook,
seu Hay Ban que foi comprado em sua última viagem à Argentina, protetor solar,
máquina fotográfica, um mapa e uma garrafa d’água. Ele não sabia por onde começar,
era sua primeira viagem internacional desde que escolhera sua nova profissão.
Tinha uma única tarefa: escrever sobre a cidade. Para muitos uma bobagem e uma resolução
simples de encontrar, para ele era quase um desafio. Para descrever uma cidade
não só basta mostrar sua quantidade de habitantes, moeda local, meios de
transporte ou cultura local. Cidades são feitas de pessoas, de emoções, de
sentimentos, de realidade individual e grupal. Andando por entre as ruas com
seu calçadão quase à lá Copacabana avista uma loja de carros, coisa simples
para nós, um luxo para eles. Os carros importados sendo vendidos como carros
populares fez com que Théo se preparasse para ver o que ele não achava no
Brasil, o bem viver. Brasileiros tem a lendária mania da usura, do guardar para
o depois, do parcelamento. Os uruguaios seriam a chave de todo o mistério que
os italianos começaram a disseminar. Fotografando mães com suas crianças na
bicicleta, pais com suas bolsas de trabalho e falando ao celular, taxistas
parando na faixa de pedestres, começou a escrever em seu notebook sobre o
comportamento de cada um daqueles indivíduos. Após o almoço suculento com
direito a um belo pedaço da carne uruguaia, pegou seu barco alugado e saiu para
apreciar a bela visão de uma ilha próxima, momentos que passara em Angra dos
Reis em auto mar vieram em sua mente como lembranças de um velho apaixonado
romântico (quase um boêmio), infelizmente teve que esquecê-la. Como peixes boi
nadando até o fundo do mar e se mostrando para os turistas perto do píer ele
quis estar. Ele escolheu aquilo tudo, ele preferiu a solidão como resultado de
uma alquimia. Seu texto não ficou tão bom quanto a editora exige considerando
seu belo patamar empresarial, porém sabia que era o máximo que poderia dar, era
o seu limite até a barreira do seu próprio medo. Era seu primeiro dia
escrevendo sobre ele mesmo e o mundo, e não sua rotina de grandes
acontecimentos, viagens esporádicas e repentinas, amores desconhecidos. A cama
de casal estava vazia, Théo preferiu ficar na varanda observando cada ponto de
brilho no céu cor de vinho tinto, tomando sua coca gelada com limão. Ele estava esperando sua próxima viagem, seu próximo carimbo no passaporte, sua próxima
passagem comprada, afinal é isto uma vida de um turismólogo mochileiro que
tinha apenas um sonho: o mundo.
"Então você escreve por reconhecimento interior e externo mundano, compartilhamento de informações seja por vontade, seja por carência. Escreve, pois precisa ter alguém nem que seja sua mãe para ler suas anedotas, escreve, pois é algo que você nunca sentiu prazer e excitação e agora, sem explicar o porquê sente-se completamente feliz, como se fosse o seu momento,escreve porque as palavras brotam de sua mente sem explicação."
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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