quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amor sem escalas (1): Punta Del Est.


Acordando em um quarto de hotel de frente para o modesto píer da rica cidade de Punta Del Est, Theodor avista seu barco alugado pela sua empresa sendo abastecido por um empregado que parecia ser indonésio. Já perdera a hora do café da manhã, a única maneira era botar na mochila: seu notebook, seu Hay Ban que foi comprado em sua última viagem à Argentina, protetor solar, máquina fotográfica, um mapa e uma garrafa d’água. Ele não sabia por onde começar, era sua primeira viagem internacional desde que escolhera sua nova profissão. Tinha uma única tarefa: escrever sobre a cidade. Para muitos uma bobagem e uma resolução simples de encontrar, para ele era quase um desafio. Para descrever uma cidade não só basta mostrar sua quantidade de habitantes, moeda local, meios de transporte ou cultura local. Cidades são feitas de pessoas, de emoções, de sentimentos, de realidade individual e grupal. Andando por entre as ruas com seu calçadão quase à lá Copacabana avista uma loja de carros, coisa simples para nós, um luxo para eles. Os carros importados sendo vendidos como carros populares fez com que Théo se preparasse para ver o que ele não achava no Brasil, o bem viver. Brasileiros tem a lendária mania da usura, do guardar para o depois, do parcelamento. Os uruguaios seriam a chave de todo o mistério que os italianos começaram a disseminar. Fotografando mães com suas crianças na bicicleta, pais com suas bolsas de trabalho e falando ao celular, taxistas parando na faixa de pedestres, começou a escrever em seu notebook sobre o comportamento de cada um daqueles indivíduos. Após o almoço suculento com direito a um belo pedaço da carne uruguaia, pegou seu barco alugado e saiu para apreciar a bela visão de uma ilha próxima, momentos que passara em Angra dos Reis em auto mar vieram em sua mente como lembranças de um velho apaixonado romântico (quase um boêmio), infelizmente teve que esquecê-la. Como peixes boi nadando até o fundo do mar e se mostrando para os turistas perto do píer ele quis estar. Ele escolheu aquilo tudo, ele preferiu a solidão como resultado de uma alquimia. Seu texto não ficou tão bom quanto a editora exige considerando seu belo patamar empresarial, porém sabia que era o máximo que poderia dar, era o seu limite até a barreira do seu próprio medo. Era seu primeiro dia escrevendo sobre ele mesmo e o mundo, e não sua rotina de grandes acontecimentos, viagens esporádicas e repentinas, amores desconhecidos. A cama de casal estava vazia, Théo preferiu ficar na varanda observando cada ponto de brilho no céu cor de vinho tinto, tomando sua coca gelada com limão. Ele estava esperando sua próxima viagem, seu próximo carimbo no passaporte, sua próxima passagem comprada, afinal é isto uma vida de um turismólogo mochileiro que tinha apenas um sonho: o mundo. 


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