domingo, 17 de março de 2013

E lá se vai, mais um dia, mais um verão ...



        Acabo de chegar de uma caminha vespertina. Era para ser um domingo qualquer, fazendo coisas a esmo, tentando não ver apenas códigos e artigos na minha frente. Dia de sol, dia de chuva. Claro estava: o verão estava indo, dando passagem ao outono romântico e fresco.
         Em meio a passos e músicas, o sol se pôs. Diferente como os outros crepúsculos que eu presenciava ao sair do trabalho por poucos minutos que seja. Em menos de 05 minutos, era noite e pingos começavam a se iluminar ao cair em reflexo a luz exacerbada dos postes pelo caminho. Comecei a viver dias em minutos apenas ao sentir aquela sensação de brisa amena, nostalgia, romantismo, memórias, sentimentos (idôneos ou não) e pés fora do chão ...
         Há um ano atrás, eu acreditava estar vivendo um conto que não se sabe ao certo se teria o juntos para sempre ou se terminaria como aqueles filmes que perguntamos “ – Então esse é o final? Que enlatado!”. Ele era apenas uma história sendo contada e engendrada, sem precisar de uma moral ou palavras bonitas ao final. História de pessoas, vivências, conhecimento, dramaturgia, jogos amorosos, que antes eram ouvidos como contos consuetudinário e que naquele momento, tudo era real e você é o protagonista da história.
         Fico imaginando que o meu maior medo não seja de gente morta, perder quem se ama, fantasmas ou ficar doente. Eu tenho medo da minha própria memória. Não sei se todos são assim, mas eu sou daquele tipo raro que antes pensava possuir memória seletiva e que agora descobre que possui uma grande facilidade de reencontrar e viver seu acervo de vida em minutos, trazendo consigo tudo que estava ao redor da cena à lume mais uma vez. É como se fosse um amálgama de “start”, “stop”, “repeat”, “back”, “next” em frações de segundos sensoriais.
         Vivi todo o meu ano em flashbacks que iam de sorrisos a olhos úmidos em metros de bairros caminhados. Caminhando, a cada esquina, um resquício de uma passagem bem vivida. Eu acredito hoje que gostamos de guardar mais as coisas boas do que quando estamos a sofrer, engolidos pela escuridão de nossos medos e angústias. Deve ser poque bem no âmago de nossa auto-estima esteja arraigado a assertiva que todo mundo passa por isso e que há males que vem para o bem, como já ouvimos muitas vezes por aí. A vida é como a sorte. Quando pensamos que estamos com uma nuvem negra na cabeça, esquecemos de olhar que nada parou e pode estar acontecendo o que você mais precisava naquele momento. Eu tive sorte no ano que passou, mesmo pensando estar ensopado por causa da escura nuvém quando tudo acabou.
         A chuva começou sua cena mais bruta e aquilo foi uma lavagem para uma alma. Carros passando, roupas molhando, a estranha sensação de insegurança que se sente, o desejo de se molhar e se libertar, o sorriso do rosto a cada despertar de um momento. Milhões de pessoas passam por nós, ainda mais quando estamos tristes e depois se vão. Essas pessoas podem ser os antigos amigos, os antigos amores, os novos colegas que se tornarão melhores amigos com o tempo, amantes que nos fazem esquecer a realidade e nos ajudam a dar o pequeno passo rumo ao estágio de não sentir mais o que estamos acostumados a sentir cada vez que acordamos de uma noite onde fomos atormentados por pesadelos e lembranças que nunca saberemos o porquê de tanto tormento.
         Impressionante como nada se encaixa no que foi um dia. O ventilador barulhento substituído pelo ar condicionado, os móveis do quarto trocados, a televisão de 40” instalada devidamente. Nada é como aquele antigo quarto em que eu dormia em março passado, assim como eu não sou tudo aquilo que fui, me transformando a passos pequenos em como eu quis ser. A faculdade esta se aproximando da metade, sou membro da comissão de formatura, o estágio está a cada dia me surpreendendo ainda mais, as audiências começaram e as roupas começaram a se ajustar como ternos, gravatas e sapatos. A pilha dos livros não param de crescer, assim como a minha fome de estudos e a chegar ao corpo perfeito. Uma vida nova sendo construída em cima de velhas lembranças. O novo sob o velho, o velho moldando o novo.
         As águas de março mais uma vez estão fechando o verão e eu continuo a acreditar que coisas boas estão por vir. Tudo acontece no outono de nossas vidas. O ano começou indubitavelmente, as primeiras provas estão a se iniciar, o que se deseja para que tudo seja diferente no ano já deve estar bem fixado e deixado uma pequena janela aberta ao acaso e destino. Não sei bem a causa disso tudo acontecer e nem pretendo saber. Não quero perder a magia que ainda acredito existir nessa estação. Só sei que sempre haverá fatos que poderão ser descobertos, redescobertos, em meio aos nossos maiores desejos de dias melhores. Assim, o outono se inicia no meio da semana que esta por vir ... Azul, café fresco, perfume bom e um coração aberto a novas alegrias que estão para chegar - muito bem recepcionadas.