terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Amor e suas drogas.


- Não acredito que encontrei-te novamente.
- Pois é, um ano se passou. – O sorriso dela abriu-se e eu pude ver o quanto o dia estava ensolarado e o quanto de esperança eu ainda guardava em meu coração por esse encontro.
- É real tudo isso? Não seria uma brincadeira do destino, uma pitada de sorte ou simples coincidência? Não, não seria. Como estou sendo idiota pensando em voz alta dessa maneira.
- Você nunca foi um idiota. Não me apaixonaria por um.
- Todos os homens são. Não mudamos. Apenas adaptamos aos momentos e como eles exigem nossa conduta. Somos atores. Não existem homens bons ou maus. Apenas homens que sabem ou não atuar. Não sei como agir agora. Você roubou-me meu roteiro.
- O engraçado é que você nunca fingiu para mim. Nunca precisou. Lembra aquele dia no ônibus? Eu sabia o qual ciumento você aparenta ser, o qual protetor tu és, o qual carente que tu finges não ser. Eu apenas agi da maneira como você me chama, de sua criança. Esqueceu-se que crianças possuem a maneira ingênua e pura de amar¿ Eu demonstrei e sei que com isso você pode sentir o que eu sentia quando estou ao seu lado. Segurança.
- Você fala como se eu fosse um herói. Como se eu fosse a última pessoa do mundo que te olha e se encanta. Eu tive medo. Olhando bem, eu sempre tenho medo. Perco oportunidades e caminhos que eu podia conquistar por acreditar nesse sentimento. Medo de te influenciar, medo de não saber o que poderia acontecer, medo de mostrar que todas as pessoas podem viver o que vivemos.
- Infelizmente eu vejo que não é assim que acontece. Ao meu redor vejo pessoas que só pensam em dinheiro. Minha família me trata como se eu fosse uma criança ainda. Como eu ia te procurar? Naquele nosso último dia, quem teve medo fui eu.
- Não me lembre disso. Não consegui dormir naquele dia e em outros muitos depois que passaram. Ficava na cama tentando fazer disso tudo verdade. Fazendo pensar que eu não estou agora conversando com a minha imaginação ou qualquer outro nome que pessoas atribuem a loucura. Só sei que você é minha.
- Para entender nosso amor, o mundo deveria virar de cabeça para baixo.
- Concordo. Poucas pessoas mudam seu mundo. Talvez elas não conseguiram achar um incentivo. Mudança pensada como um conceito não é sinal de revolução. Apenas mudamos quando queremos algo melhor e botamos em prática. Na estrada, às vezes, podemos esquecer nossos objetivos, mas nunca esquecemos quem nos motivou a mudar. Você me mudou.
- Como? Nem ao menos te toquei. Quer dizer, um toque apenas, nada mais.
- Toques físicos são carnais. Toques sentimentais são sentimos mais na alma. Você me mostrou a única pessoa que estava realmente perdida. Eu mesmo. No mundo conhecemos milhares de pessoas. Algumas nem ao menos nos tocam. Então, você conhece alguém e essa pessoa faz sua vida mudar, para sempre.
- Amor e outras drogas. Lindo este filme. Sempre quando perco o sentido de gostar de alguém, eu o vejo. Mas temos que concordar que o amor é realmente uma droga. Esse bolo confeitado sem receita. Essa mágica sem feitiço. O frio na barriga. A saudade ácida. O sofrimento tácito. A benevolência revigorada. Não é encontrado em líquido, em pílula e muito menos nas prateleiras das farmácias para escolhermos a melhor marca, a dose correta ou o mais simples, o nome correto do fármaco.
- Eu não sei se o amor é uma droga ou uma cura. Só sei que eu só queria uma dose de você. Se puder, no conta gotas. Assim consumo aos poucos e moderadamente. Bem como as pessoas pensam que o amor é. Diluído, correto, regrado e, simplesmente, insubstituível.         


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sentado no Divã: Retrospectiva e Análise.


“E se tive problemas algum dia, não foi por falta de felicidade”.

Clóvis, já é dezembro e passou um ano que passei a ter meu blog. Pela milésima vez eu assisti “Divã” hoje e não tinha forças e nem coragem para voltar a escrever como eu escrevia, porém senti uma vontade imensa de falar sobre mudanças. Sobre as minhas mudanças. Eu sei que a vida muda, a mina pode estourar antes da hora ou não e o mapa do destino nunca pode ser traçado esmeradamente. Eu fui aprendendo a andar pelo rio por onde a vida passa. Eu me sentia um ninguém e, hoje, descubro uma pessoa dentro de mim. Várias por sinal. Com muitas facetas, com apenas um caráter, se é que isso é possível. Costumo brincar que sou uma hipérbole quando brinco de criança, metonímia quando começo a contar a minha vida, um paradoxo quando desejo exprimir meus sentimentos e vontades. Não sou a soma de minhas partes, elas se contradizem a cada respiração ou segundos passados no relógio. Quando eu comecei o “Comer, Rezar, Amar” sob o meu ponto de vista eu não esperava mudanças. Era apenas um livro. Um livro conseguiu abrir as portas da minha mente para a leitura, para os filmes, para o saber perdido entre as eras. Eu só sabia ler, chorar, comer incontinentemente bobeiras. Lutava com os meus medos, com o meu passado, com o meu hoje perdido e com o meu futuro a beira de um abismo. Eu me perdi de mim. Olhava no espelho e ele não me dava a imagem daquele Arthur que um dia eu fui. Hoje eu sou um Arthur que nunca me imaginei sei. Eu tive que construir o meu “eu” basilar. O meu alicerce. O que eu queria ser, o que eu não queria ser, se a minha vida será sempre guiada pelas pessoas ou me perderia na liberdade, queria comer boas comidas e encontrar o prazer de comer bem e saudável, ter um reencontro com uma pessoa que briguei sem motivos e que hoje Ele é meu melhor amigo e, principalmente, encontrar o primeiro amor de minha vida e não mais um caso, mais uma cama ou uma simples decepção. Dizem que o primeiro passo é o mais difícil. Posso afirmar que o segundo é mais ainda, porque para isso você precisa ter suas vontades e emoções mais arraigadas em você mesmo, sentimentos profundamente fixos na natureza do seu ser. A cada dia eu lia um capítulo de um livro e desejava contar um capítulo da minha vida. Não que eu seja um exemplo a seguir ou me sinta extremamente prepotente dizendo que a minha vida seja divertida, chata, quente ou fria. Eu queria mostrar histórias, ora reais, ora sendo pitadas com imaginação, que já me aconteceram e, de alguma forma, transmitir o enredo, o começo, o fim ou a moral de cada uma delas às pessoas. Não sou bobo de acreditar que fiz algo grandioso, mas sei que alguma parte do planeta a história se repete. A história é cíclica e já é ratificada estudiosamente por Maquiavel. Eu pensava que viajar resolveria meus problemas. Então arrumei minhas malas e fui para Angra. Só tenho boas recordações. É bom ficar lembrando os crepúsculos que presenciei na praia, de Campos do Jordão, de como eu me perdoei por ser desse jeito e pensar dessa maneira, em como eu me encorajei a mudar quando vi meu coração bater mais forte por alguém que conheci lá e nunca mais vi. Eu pensava que viveria tudo sozinho. Dei-me conta que ao meu redor tinha mais gente que eu esperava. Quando penso em humildade eu me lembro da menininha que veio ao meu encontro, arrepia-me só de pensar, quando eu estava na praia e me olhou e disse algo tão lindo que não consegui guardar e voltou a catar suas latinhas. Eu a reencontrei novamente um dia na praia e só lembro-me de uma resposta dela quando perguntei  onde estava o pai dela: “Ele está lá em cima, tio! Depois eu vou encontrar com ele para tomar Coca-Cola“. Na hora eu não me dei conta. Eu procurei por alguém e não achei. Segui o seu dedo apontado para a praia e me dei conta. Ela apontava para o horizonte, para um céu azul e límpido. Hoje eu sei o que isso significa e choro ao saber quem é o Pai dela. Somos todos filhos dele e, às vezes, nos esquecemos de agir como filhos genuínos. Naquele dia uma chama dentro de mim ascendeu-se e descobri que esse fogo se chama Fé. Arde e não vejo. Sinto, mas não posso distribuí-la a mais ninguém no meio físico. Com o amor de Angra eu tentei mostrar para mim mesmo que eu poderia ser um exemplo de pessoa para ter uma relação amorosa. Mas quem sabe realmente como amar corretamente? Então decidi me amar primeiro. Voltei a correr. Endorfinas sendo liberadas a todo vapor. Eu não ligava de estar acima do peso. A felicidade não é medida em percentuais de gorduras e muito menos a quilo.  Lembro que com dor no coração eu voltei para passar o Natal em Volta Redonda. Dor não por voltar, dor por ser tão pequeno e frágil quando o destino e nossas escolhas caem sobre nós. Eu estava muito ansioso para o Cruzeiro. Afinal, era Buenos Aires! A cidade que mais queria conhecer na minha adolescência. E realmente, ela me deu tudo que podia dar em dois dias. É como o último pedaço de chocolate, ele te atiça a comer mais. Com essa viagem foi a mesma coisa. Chega a ser mágico e alucinógeno quando me lembro de como a Lua refletida no mar pode ser vista com aquela música “A Lenda” à voz de Roupa Nova ao fundo. É estranho pensar no homem no último deckexperimentei. Eu descobri o que era pagar caro e compensador olhando para a rua e pensando na vida. Anotei em algum lugar que voltaria lá quando estivesse namorando. Quero amar naquela cidade que tudo cheira a desejo. Quando aportei novamente na vida real, fui passar uns dias na Ilha Grande. Eu só sabia nadar e pensar. Não fazia mais nada. Eu ainda não sabia o que queria e sentia medo. Muito medo. Medo até da minha sombra. Parece que tudo que sempre joguei para debaixo do tapete foi, de uma hora para outra, descoberto e eu estava sendo interrogado minuciosamente sobre todos os fatos, falhas e vontades. Sonhamos tantas coisas quando somos adolescentes. Ninguém nunca me falou que exigiriam tanto de mim quando eu me tornasse um aspirante a adulto. Que eu teria que escolher o que seria da minha vida e que isso poderia me levar ou a minha ruína total ou ao meu sucesso. Eu escolhi não escolher. Não agüentava mais a pressão, pessoas falando o que fazer e o que você nunca chegará a ter. Sempre levei em conta o refrão que nunca deixe que lhe digam que não vale à pena acreditar nos sonhos que se tem ou que os seus planos nunca vão dar certos ou que você nunca vai ser alguém. Comecei a estudar italiano, viajava sem sair do lugar 3 horas da minha semana. Dediquei-me ao Inglês. Tentei fazer alguns cursos que não deram muito certo. Acordei pensando em Justiça e fui prestar vestibular para Direito. Passei. Comecei o caminhar do meu futuro. Encontrei-me novamente. Já faz parte de mim a Justiça com o seu dar a cada um aquilo que é seu, sendo assegurada com certa segurança, protegida sob a forma de leis dentro de um ordenamento jurídico garantido por um Estado que asseguram direitos e lhe dá deveres. Eu estou fazendo o que gosto e não deixo ninguém interferir nisso. Tornei-me mais egoísta quanto a isso. Tive medo de perder meus amigos. Tive medo de perder tempo para o tempo. Toda hora é uma hora a menos de estudo. Tentava não ser tão excluído do mundo, focado apenas em meu objetivo. Respirei e já acabou o primeiro período. Durante esse período, eu fui tirar minha carteira de motorista. Foi um dos momentos mais alegres que já passei na minha vida. Encontrar pessoas que gostam da vida é como encontrar dinheiro na rua. Minha instrutora prática foi umas das únicas pessoas que já confiaram em mim e hoje eu a tenho como uma mãe. Nossas aulas eram sempre na parte da tarde. Não conseguia parar de rir, de falar sobre a vida, de dividir momentos, de quebrar paradigmas, de mostrar que nem todo mundo é igual a todo mundo. Chorava por dentro quando ouvia palavras que nunca ouvi de meus próprios genitores. Se hoje eu só dirijo falando ou cantando é por culpa e mérito dessa pessoa maravilhosa que conheci. É disso que eu sinto falta e quando acontece eu faço questão de guardar em mim, as surpresas da vida. O que ela guarda no fundo da xícara e cabe a nós o arbítrio de mexer a colher e misturar o doce ou deixar do mesmo jeito que está e ficarmos parado. Quando tudo estava para acabar esse ano, eu me via pensando em Deus. Lembrava da vez que chorei no Santíssimo, das coisas que pedi a Ele todas as noites, dos perdões que o rogava por ser dessa maneira e sempre querer mais e mais. Eu me vi tendo Fé e sentindo-a. Na última missa eu só tinha o que agradecer. Ao meu lado eu sinto que tem alguém. Sinto que tem uma pessoa que pode me dar o mundo em minhas mãos como um desejo infantil. Ele sempre fez o que foi importante para mim. Um pai. Antes de tudo, um Amigo. Como gratificação eu fiz amigos esse ano. Pessoas que pretendo levar para a vida inteira se deixar. Fiz muitos inimigos, me tornei fútil para alguns, perdi contato com outros, exclui pessoas que querem tomar conta da minha vida, refiz amizades, amenizei a distancia que me separava de alguns, tenho mais amor a minha família, tento perdoar quem já me fez sofrer, sinto pena do que lembro e de algumas pessoas, e continuo sonhando com a minha filha. Foi um ano bom. Eu comi, eu rezei e não amei. Ainda não estou preparado para isso. Prefiro ficar solteiro, me cuidar, me entender e deixar que o tempo capriche e faça seu trabalho. Eu sei que eu não sou uma frigideira sem a sua tampa e nem quero muito menos ser a outra metade da laranja de alguém, porque ninguém sonha em ser uma laranja completa por agregação de duas partes distintas e sim por união completa de um ser sendo o mesmo que o outro. Eu continuo esperando. Mas dessa vez eu espero sozinho. Aprendendo como deve ser e não treinando sempre para ver o resultado. Chega de cobaias. Não tenho pressa. Única coisa que teve pressa esse ano foi ele mesmo. Mas a cada dia eu senti mudanças. Cada dia era uma análise, série na academia, humor diferentes. De adolescente para adulto, mas nunca deixando de viver e recordar as épocas que já se foram e fixando raízes para um futuro bom. Boa Noite, Clóvis! Espero-te na ceia de Natal!