segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Enfim, 1.9


Todas as pessoas sonham em ser mais velhas, eu tenho a síndrome do Peter Pan. O ruim é que é apenas síndrome, sempre fui muito maduro precocemente em algumas áreas. Quando criança eu gostava de passatempo, mas jogava o biscoito fora e ficava com o recheio – eu sempre guardei o recheio para o final, igual quando eu como carne, ela sempre é a última a ser comida. Eu gostava da minha vida, morando na Volta Grande junto com a minha bisavó (provavelmente ela é uma das poucas pessoas que recebe meu verdadeiro “eu te amo” que ainda é uma coisa rara de ser ouvida de minha boca e transmitida em meu olhar). Com a separação de meus pais, eu me fechei. O período de 6 anos que morei em Angra dos Reis serviu apenas para eu ser testado : limite, compreensão, falta de afeto, estudos a baldes, primeiro beijo, primeiro caixote, primeira vez que comi Paca sem saber. Eu buscava Deus na Bíblia e em minhas orações, não o achava. Sentia- me perdido e só. Não é questão de sentir pena de mim, mas como minha amiga disse: “- Cada um carrega o peso que merece e hoje, você é forte desse jeito devido a isso tudo.” Quando retornei a Volta Redonda em minha adolescência, em primeiro tempo eu me tornei “famosinho” no colégio por possuir condições financeiras melhores que os demais, a minha casa era um play ground de pessoas. Fui muito fechado e mesquinho com quem eu não conhecia, não sabia que um dia precisamos daquelas pessoas que achamos não ser necessário tratá-las bem e nem aprender com cada erro. A vida me deu na cara literalmente. Hoje choro e lamento os dias que humilhei quem não devia, reneguei quem me amava e dei atenção a quem não merecia. O dinheiro não compra felicidade, mas compra seu status na sociedade o que conseqüentemente te faz feliz ou uma falsa idéia do que realmente é esse sentimento. Eu fui um sonhador: sonhava em ser bonito, em ser feliz, em ter uma família perfeita televisiva, ter alguém com quem eu possa dormir à tarde ou à noite, ter alguém que não goste de mim apenas pelo que eu apresento ser, mas sim aquele Arthur que está dentro de mim e que não tem nome. Acho que foi por essa criação e estes sonhos que eu tornei-me a pessoa que fui aos 17 anos: era conhecido, tinha o sorriso mais bonito, nunca era rejeitado por ninguém, as mães das alunas me queriam como genro. Quanto maior o sonho, maior a queda. Ao chegar aos meus 18 anos eu não imaginava que a crise dessa idade das trevas pudesse desmoralizar-me tão fortemente como foi. Eu perdi tudo: parte da minha família, parte do meu corpo, parte do meu ser. Eu dormia, porque sabia que o próximo dia seria a mesma bosta do que o anterior. Eu esqueci que tudo na vida tem seu fim, e eu tive o meu. Renasci das cinzas. Aprendi a correr novamente atrás de meus sonhos e do meu corpo, que existem anjos na Terra, que Deus cuida de mim, que eu posso ser feliz não sendo vingativo e sim misericordioso. Meus 19 anos começaram sucedidos com os melhores dias da minha vida, não amando tudo que tenho, mas tudo ao qual preciso.  


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