Todas as pessoas sonham em ser mais velhas, eu tenho a
síndrome do Peter Pan. O ruim é que é apenas síndrome, sempre fui muito maduro
precocemente em algumas áreas. Quando criança eu gostava de passatempo, mas
jogava o biscoito fora e ficava com o recheio – eu sempre guardei o recheio
para o final, igual quando eu como carne, ela sempre é a última a ser comida.
Eu gostava da minha vida, morando na Volta Grande junto com a minha bisavó
(provavelmente ela é uma das poucas pessoas que recebe meu verdadeiro “eu te
amo” que ainda é uma coisa rara de ser ouvida de minha boca e transmitida em
meu olhar). Com a separação de meus pais, eu me fechei. O período de 6 anos que
morei em Angra dos Reis serviu apenas para eu ser testado : limite,
compreensão, falta de afeto, estudos a baldes, primeiro beijo, primeiro
caixote, primeira vez que comi Paca sem saber. Eu buscava Deus na Bíblia e em
minhas orações, não o achava. Sentia- me perdido e só. Não é questão de sentir
pena de mim, mas como minha amiga disse: “- Cada um carrega o peso que merece e
hoje, você é forte desse jeito devido a isso tudo.” Quando retornei a Volta Redonda
em minha adolescência, em primeiro tempo eu me tornei “famosinho” no colégio
por possuir condições financeiras melhores que os demais, a minha casa era um
play ground de pessoas. Fui muito fechado e mesquinho com quem eu não conhecia,
não sabia que um dia precisamos daquelas pessoas que achamos não ser necessário
tratá-las bem e nem aprender com cada erro. A vida me deu na cara literalmente.
Hoje choro e lamento os dias que humilhei quem não devia, reneguei quem me
amava e dei atenção a quem não merecia. O dinheiro não compra felicidade, mas
compra seu status na sociedade o que conseqüentemente te faz feliz ou uma falsa
idéia do que realmente é esse sentimento. Eu fui um sonhador: sonhava em ser
bonito, em ser feliz, em ter uma família perfeita televisiva, ter alguém com
quem eu possa dormir à tarde ou à noite, ter alguém que não goste de mim apenas
pelo que eu apresento ser, mas sim aquele Arthur que está dentro de mim e que
não tem nome. Acho que foi por essa criação e estes sonhos que eu tornei-me a
pessoa que fui aos 17 anos: era conhecido, tinha o sorriso mais bonito, nunca
era rejeitado por ninguém, as mães das alunas me queriam como genro. Quanto
maior o sonho, maior a queda. Ao chegar aos meus 18 anos eu não imaginava que a
crise dessa idade das trevas pudesse desmoralizar-me tão fortemente como foi. Eu
perdi tudo: parte da minha família, parte do meu corpo, parte do meu ser. Eu
dormia, porque sabia que o próximo dia seria a mesma bosta do que o anterior.
Eu esqueci que tudo na vida tem seu fim, e eu tive o meu. Renasci das cinzas.
Aprendi a correr novamente atrás de meus sonhos e do meu corpo, que existem
anjos na Terra, que Deus cuida de mim, que eu posso ser feliz não sendo
vingativo e sim misericordioso. Meus 19 anos começaram sucedidos com os
melhores dias da minha vida, não amando tudo que tenho, mas tudo ao qual
preciso.
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