Acordo na Rua 4 do Conforto. Ela já estava a minha espera. Seu
carro, sua roupa, seu colar, tudo cheirava a pecado. Entro no carro e ela abre
a torneirinha de asneiras, típico comportamento mineiro logo pela manhã, eu já
não tenho tanta paciência pela manhã, ainda mais para aturar reclamações que o
marido podia ter a visto naquele local combinado. Camila é gordinha, fala
engraçado, mas tem algo que eu queria ter, o dom da conversa – não sou um homem
de meias palavras, mas também não sou um Galvão Bueno narrando a copa do mundo.
Sua casa localizada em um bairro menos civilizado de Barra Mansa parece um
zoológico. Seu marido cria animais no quintal, eu queria ser um animal com ela
na cama. Todo esse ar floresta e camponês encheu-me os pulmões e entrei em sua
casa pela quarta vez. Peço para ir ao banheiro (um ritual), mas dessa vez era
para lavar o rosto e tentar disciplinar minha mente para não pensar na minha
criança que está no Rio. Ela já está na cama à espera de seu amante matinal,
hoje eu iria fazer o papel de chefe da casa. Camila beija meu pescoço, olha em
meus olhos cor de avelãs e tenta dar-me um beijo. Rejeito. Eu não vou
conseguir beijar outra pessoa ainda, quando eu estou com a pessoa errada eu penso
dobrado na pessoa que se encontra em meu coração, ou seja, na certa. Ela não entende, mas não fala
nada. Hoje ela estava agitada, queria um cama sutra: De 4, papis e mamis,
cavalinho, canguru perneta, balançinho. Eu fiz, mas não estava com tesão. Acho
que minha criança faria melhor tudo isso e ainda seria mais romântica. No final
de duas horas, eu quero embora. Ela implora para adiar minha ida, resisto
fielmente. O que estou fazendo na cama de uma pessoa casada se eu estou amando
outra? Objeto sexual ambulante e insensível. Camila me trouxe até o ponto mais
próximo de Volta Redonda, conversávamos sobre as aventuras de pescaria do
marido e os dias que ele estaria trabalhando. Convite feito, convite pensado.
Na volta para casa eu vi que Camila está estigmatizada ao pecado: seu marido é
um corno fura fronha, ela é feliz do jeito que vive (sendo de todos) e mesmo
assim tenta ser uma boa dona de casa rotineira. Parece que tudo que houve em
sua cama, todos os meus pensamentos, todos os meus sentimentos, se resumem em
uma palavra: nada. Eu ainda amo aquele amor platônico.
"Então você escreve por reconhecimento interior e externo mundano, compartilhamento de informações seja por vontade, seja por carência. Escreve, pois precisa ter alguém nem que seja sua mãe para ler suas anedotas, escreve, pois é algo que você nunca sentiu prazer e excitação e agora, sem explicar o porquê sente-se completamente feliz, como se fosse o seu momento,escreve porque as palavras brotam de sua mente sem explicação."
domingo, 2 de janeiro de 2011
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