domingo, 2 de janeiro de 2011

As Cariocas: Camila, a casada estigmatizada.


Acordo na Rua 4 do Conforto. Ela já estava a minha espera. Seu carro, sua roupa, seu colar, tudo cheirava a pecado. Entro no carro e ela abre a torneirinha de asneiras, típico comportamento mineiro logo pela manhã, eu já não tenho tanta paciência pela manhã, ainda mais para aturar reclamações que o marido podia ter a visto naquele local combinado. Camila é gordinha, fala engraçado, mas tem algo que eu queria ter, o dom da conversa – não sou um homem de meias palavras, mas também não sou um Galvão Bueno narrando a copa do mundo. Sua casa localizada em um bairro menos civilizado de Barra Mansa parece um zoológico. Seu marido cria animais no quintal, eu queria ser um animal com ela na cama. Todo esse ar floresta e camponês encheu-me os pulmões e entrei em sua casa pela quarta vez. Peço para ir ao banheiro (um ritual), mas dessa vez era para lavar o rosto e tentar disciplinar minha mente para não pensar na minha criança que está no Rio. Ela já está na cama à espera de seu amante matinal, hoje eu iria fazer o papel de chefe da casa. Camila beija meu pescoço, olha em meus olhos cor de avelãs e tenta dar-me um beijo. Rejeito. Eu não vou conseguir beijar outra pessoa ainda, quando eu estou com a pessoa errada eu penso dobrado na pessoa que se encontra em meu coração, ou seja, na certa. Ela não entende, mas não fala nada. Hoje ela estava agitada, queria um cama sutra: De 4, papis e mamis, cavalinho, canguru perneta, balançinho. Eu fiz, mas não estava com tesão. Acho que minha criança faria melhor tudo isso e ainda seria mais romântica. No final de duas horas, eu quero embora. Ela implora para adiar minha ida, resisto fielmente. O que estou fazendo na cama de uma pessoa casada se eu estou amando outra? Objeto sexual ambulante e insensível. Camila me trouxe até o ponto mais próximo de Volta Redonda, conversávamos sobre as aventuras de pescaria do marido e os dias que ele estaria trabalhando. Convite feito, convite pensado. Na volta para casa eu vi que Camila está estigmatizada ao pecado: seu marido é um corno fura fronha, ela é feliz do jeito que vive (sendo de todos) e mesmo assim tenta ser uma boa dona de casa rotineira. Parece que tudo que houve em sua cama, todos os meus pensamentos, todos os meus sentimentos, se resumem em uma palavra: nada. Eu ainda amo aquele amor platônico.


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