segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Latinhas. Reação. Anjos.


“- Mas tu achas que caberá todas essas latinhas em seu balde?
  - Ah não tio, tem um saco lá cheio para guardá-las.”

Depois de uma noite desejada de descanso tive de acordar com um mormaço impetuoso. Sabe aqueles dias que você só desejava ficar em sua casa, mas sem o tédio comum? Ficar apenas para falar: “- Hoje eu fiquei em casa.” Era esse meu desejo matutino. Não agüentando tamanho calor odioso em meu corpo fui checar como estava o mar. Simplesmente minha praia mudou: com a chegada do final de semana sem chuva na parte clara do dia, a praia recebeu novos visitantes barulhentos, desrespeitosos para com a areia e até para com as pessoas, visitantes estes que mudaram até a cor da água. Resolvi ir ao meu refúgio: Praia das Goiabas. Uma das praias mais v.i.p desse lado de Angra (você só pode entrar no condomínio se for dono de alguma residência ou resolver ter acesso a praia pelas pedras da praia de Mambucaba). Ela foi e sempre será meu refúgio recarregador de energia e meditação. Na parte da tarde, resolvi ler meu livro (“o caminho do guerreiro pacífico”) em frente ao rio – lembrei-me de um livro muito bom chamado “onde termina o rio”. Perdido em meus devaneios conclusivos sobre cada capítulo lido e após ter enfrentado uma branda chuva, avisto uma garotinha andando em minha direção com um balde roxo. Em minha dada ingenuidade, pensara que seria para brincar, mas não, ela era catadora de latinhas. Observei atenciosamente sua parada na minha frente e sua recolha a cada latinha que encontrava. Ela deixou o balde perto de mim e saiu recolhendo e pensando alto. Aquela simples moçoila mudou meu dia. Eu estava tão perdido em meus projetos futuros, a próxima festa que terá em minha cidade de uma rede de TV, o meu próximo presente, o meu próximo momento. E ela ali, pensando em voz alta comigo, tentando encontrar seu pão de cada dia. Simplesmente senti-me como um estrume consumista e egoísta. Fiquei estático, sem saber o que fazer. Meu desejo era sair e ajudar aquela garota, nem se fosse para ajudá-la a catar latinhas. Mas o que a responsável dela iria pensar de mim? Um pedófilo, na certa. Ela pegou seu balde, se despediu e foi de encontro a avó e uma menina que parecia ser sua irmã. As três saíram da praia e eu fiquei a observando. De alguma maneira o coração daquela menina era transmitido em seu olhar: doce, com medo, fantasia de criança e desejo por uma vida melhor. Meus olhos ficaram maranhados. Naquele momento eu percebi: ela é uma pessoa iluminada. Uma criança que carrega consigo a pureza da infância, a proteção de seu corpo em seu organismo e sua esperança em cada sorriso dado. Se ela era um anjo, eu não sei. Mas desejo que no Natal ela ganhe a boneca de seus sonhos, uma mesa farta para compartilhar e muito carinho por todo seu trabalho. Todos têm o poder de influenciar, dominar, conquistar, cativar as pessoas. Aquela simples criança conseguiu tocar meu coração em uma fração de segundos e transformá-lo. Anjos existem. Obrigado por transmutar minha realidade de novo, quem ou o que quer que seja você. 


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