Levanto tarde. Minha madrugada foi simplesmente londrina.
Não sei como podem existir pessoas que moram longe e você sente que são suas
almas-gêmeas. Falamos de aventuras, antigos relacionamentos e ligamos a web
cam. Foi a primeira vez que eu cantei para alguém. Não foi alguém comum, mas
sim um “everything”. Rimos e nos
emocionamos e nos admiramos. Casei. E assim o dia chega com a realidade na
bagagem. Acordo e já tenho que almoçar, será que perdi a noção do tempo? Poxa,
com ela, eu perderia (junto com nossos filhos, Heitor e Rosalie, e até com a
Pipoca – sim, ela quer esse nome no cachorro). Terminei de arrumar as últimas
coisas na mala, não sei como irei carregá-la por tanto tempo, preciso de um
Hércules Delivery. Pego o último “15”
deste ano rumo à rodoviária. 9 horas do dia seguinte é a hora escolhida. Encontro com um amigo. Rimos, conversamos e principalmente buscamos entender o
meu comportamento restritivo, retraído, inafetivo. Abro as portas de meu
passado e conto algumas partes gélidas e indeléveis. Não procuro pena,
compaixão e nem piedade, mas sei que já tenho muita bagagem e muitas migalhas na mochila. Foi difícil explicar toda uma depressão, toda uma falta de
carinho para com uma criança, todas as muralhas feitas à base de ferro e aço
para se proteger de tudo e de todos. Um Arthur que eu tive que criar para que
eu mesmo viva bem e tranqüilo. É difícil você se expor. Não era uma aula de
análise e sim, uma conversa de amigos. Para mim foi como que se a cada momento
uma migalha foi saindo da mochila e se despedindo: “- Você não precisa mais de
mim, to vazando!” Mesmo tendo todo essa sobrecarga de emoções, eu sobrevivi.
Voltei para casa com uma vontade louca de comer e conversar com alguém. Um
alguém que talvez eu nem conheça um dia. Um alguém que hoje eu cuido a
distancia sobre um céu sem estrelas, uma noite amena e um computador.
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