“– Que falta faz um vovô para um netinho, né?
- Sim, muita. (*Meu pensamento: não só um avô como uma avó como vocês. Ainda irei procurar a pedra filosofal para eternizar suas presenças. Eu amo vocês e é mais infinito que o universo).”
- Sim, muita. (*Meu pensamento: não só um avô como uma avó como vocês. Ainda irei procurar a pedra filosofal para eternizar suas presenças. Eu amo vocês e é mais infinito que o universo).”
Acordo com meu avô passando mal, sintomas de labirintite (muitos
acham que são apenas sintomas de tontura e mal estar, mas isso vai muito além
dessas meras inconveniências). Como de
costume, perco o horário de ônibus – sou um iludido, como poderia acordar ás 7
horas da manhã depois de ter ido dormir ás 2 horas da madrugada e ter deixado
mais uma desilusão para trás? Vou para rodoviária, troco a passagem, volto para
casa. Minha avó começou a dar sintomas de despedida, não gostei disso. Fui
correr no sol escaldante, queria todo o meu suor, problemas, preocupação fora
de meu corpo. Quis encontrar a minha meditação correndo o mais rápido possível.
Sento para almoçar e ela senta-se ao meu lado. Eu conheço tão bem aquela
lindona, reconheceria o tom de sua tristeza pelo telefone. Hora da despedida.
Meu avô na cama em repouso e ela na sala, tentando demonstrar toda sua força e
coragem. Ao me abraçar, lágrimas sobressaíram de seus olhos – como sempre, eu
me contive. No ônibus, eu desabei.
Estava pouco me lixando para o que o povo estava pensando, mas era o meu
momento e não queria ninguém dando palpite. Quando cheguei a Lídice, encontrei
um amigo. Pegamos o Eco Sport rumo ao desconhecido. Botamos o papo em dia de
tanto tempo de afastamento devido as nossas cidades diferentes. “- Para onde vamos, Arthur? - Tarituba,
Paraty. Estava quase na hora do entardecer ao chegarmos, entramos no mar de
short e tudo e apreciamos o momento que poucas pessoas costumam valorizar: a
despedida do sol, o encontro dos anjos e a aquarela de cores sobre o mar e o
horizonte. Senti-me como um adolescente. Botava o rosto para fora do carro e a
minha sensação era de gritar: "- Eu sou livre para fazer o que EU quiser!" E foi
o que eu fiz. Cheguei a casa com a minha super mala, minha mãe foi pega de
surpresa (não avisara a ela de minha chegada). Out of the blue, minha avó liga,
preocupada, perguntando se eu havia chegado bem. Mais choro. Foi naquele
momento que eu decidi: Vou ficar na Vila Histórica de Mambucaba, Angra dos
Reis. Não preciso de dinheiro da Ilha Grande. Preciso de família. Quero passar
o Natal junto a minha casa, junto com as duas pessoas que eu mais amo, pois
mesmo assim terei que deixá-los em janeiro de novo. Reconhecendo e ratificando
todas essas idéias em um banho quente e relaxante pude chegar a uma conclusão:
Há algum propósito aqui em Angra. Posso ir à Ilha Grande no momento que melhor
me convir, mas é neste lugar, onde vivi seis anos de minha vida que vou
descobrir mais uma parte de mim. Junto com as minhas irmãs (nunca tive muita
intimidade, sou um desconhecido a seus olhos), com o meu padrasto (sempre
discutimos, brigamos e nunca nos entendemos muito bem) e junto com a minha mãe
(uma pessoa que foi mãe aos 15 anos, não teria como transmitir um amor que
nunca teve, um carinho que nunca recebeu; uma pessoa que um dia ainda poderei
falar: - Minha mãe, obrigado por me conceder). E aqui estou eu: em uma mesa
escura, ao lado da antiga igreja, escutando o barulho do mar, olhando uma
fogueira de amigos na praia. Estou tendo uma boa ligação aqui em Angra, ligação
esta que está apenas começando, mas que começou com o pé direito.
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