Desde quando decidi usufruir dessa minha vida sem trabalho e
com estudos focados, eu estou passando por cada experiência que chega ser até cômica
para não dizer deprimente em certas horas. Pessoas antes que eram essenciais de
serem vistas ou de possuir alguma conversa chula se quer, foram se esvaindo de
minha rotina aos poucos. Não foi por não gostar, hoje sei o leve significado de
quando dizem que a sua rotina faz seus amigos e sua cabeça. Esporadicamente,
para não dizer raramente, recebo algumas singelas ligações:
- “E aí, como que ta a vida?
- Pow, tudo tranqüilo e você?
- Porra, minha vida não consegue ficar mais animada que o “zorra total“. Deprimente.
- Sei como é, to na mesmo barco. Assistindo “Faustão” só para rir da cara das pessoas quando ele não as deixa falar. (risada de fechamento*)”
- Pow, tudo tranqüilo e você?
- Porra, minha vida não consegue ficar mais animada que o “zorra total“. Deprimente.
- Sei como é, to na mesmo barco. Assistindo “Faustão” só para rir da cara das pessoas quando ele não as deixa falar. (risada de fechamento*)”
As pessoas pensam que eu sou vagabundo. Mal sabem elas que
estudar inglês e italiano, quase como um intensivo, prende e absorve muito do
meu tempo. Ter que aprender uma língua que é tão bonita de ser falada, porém
possui inúmeros verbos de conjugações irregulares, palavras que possuem duas
letras seguidas e saber exatamente como pronunciar cada uma das sílabas botando
gestos e exortações é quase um curso de ator de “como ser um italiano”. Sem
contar as inúmeras perguntas que tive que responder: “Por que o italiano?” Até
explicar que tenho uma “queda” pela língua, minha família possuir laços
italianos, detestar a língua espanhola (que geralmente é a terceira opção, hoje
em dia) e ainda, que o mercado de trabalho exige cada vez mais que você domine
três idiomas, eu tenho que chegar a formular quase um texto dissertativo com
conclusão persuasiva suficiente para que a outra pessoa não me olhe e fale: “Você
é doido! Vai fazer uma faculdade, porra!”
Na sessão “amor” eu estou convencido que não é a melhor
hora, aliás, não tenho tempo nem de procurar na rua. Eu tentei, encontro com alguém ás vezes (contato fixo de um passado é uma excelente válvula de escape),
recebo ligações do tipo: “E aê, ta de bob? Estou sem ninguém em casa, passa
aqui, gato.” Juro que rio depois que desligo o telefone. Eu adorava essas
coisas, hoje eu ás acho que não me satisfazem. Quero mais que isso. Se eu
começar a falar de política, religião, fé, colóquios com palavras distintas, a
pessoa vai achar que estou delirando ou que não sou mais o mesmo. O que me
resta depois disso? Academia.
“- Gente, que disposição! Tá tomando creatina?
- Não, gata. Necessidade mesmo.
(Pensamento: Estou tomando cafeína em forma de termogênico. Estou em uma puta
carência que não passa nunca. Sexta-feira a noite assistindo pela milésima vez o “Globo Reportar” falar
sobre saúde ou rever o “Pânico na Tv”. Acho que vindo até a academia, puxar
ferro, correr, fazer elíptico e revezando um circuito aeróbico, eu posso consegui dissipar um pouco essa solidão em meio aos livros. E aê, como que ta a vida? Me
conta tudo.)”
Eu ria descaradamente da vida dos “nerds” na minha escola,
vivia zombando de sua falta de vida social. Hoje aqui estou eu, sem tempo até
para ficar duas horas á toa no shopping, ir ao cinema, fazer um “blind date”,
almoçar com os amigos. As semanas passam-se mais rápido, o frio de outono
começa a dar o ar de sua graça e as pessoas começam a se enfeitar mais. Minha
nada mole vida está assim e se ainda ousarem em perguntar mais alguma vez :" - Como que você esta?” Não hesitarei em responder: “ – Tô numa merda do caramba!
Quer trocar de vida? Se bem que a sua deve ta menos animada que a minha. Vamos
fazer alguma coisa juntos? (...) Pois é, eu também. (...) Talvez semana que vem
então.(...) Marcamos na próxima semana. Tenho que ir! Um beijo.” - preciso de um analista, urgente.
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