Olá, bom dia, já passa de uma da manhã. Como vai você? Não
sei bem por onde começar, porque não sei onde tudo acabou. Não pretendo usar
palavras catedráticas ou regras sintáticas bem colocadas, pois quando nos conhecemos
eu era quase um analfabeto no meio de livros. Nesses dias que passo em casa,
ora estudando ora refletindo, me pego pensando em você e em nossa amizade. Desculpe-me,
não creio em ex amigo. Primeiro encontramos um desconhecido que não “vamos com
a cara” ou o “santo não bate”, não temos nenhuma afinidade aparente ou
internamente sentida. Julgamos que não precisaremos daquela pessoa nunca. Um
momento do destino, uma mudança na ordem das salas, um vinculo ratificado pela
correria do dia a dia. Aquele humilde ser que antes não conseguíamos suportar
torna-se um conhecido e depois de passado algumas provas, figura-se em amigo. A
ajuda na hora precisava, quando você queria segurar o choro, o abraço com o
sorriso matutino mais alegre e antes não visto, o conselho de irmã mais velha
que nunca havia na vida real. Entretanto quando a amizade é tamanha, ela consegue
causar inveja a outros, superar problemas familiares e amorosos juntos,
contentar-se em se divertir apenas você e seu melhor amigo e mesmo assim terem
bons momentos juntos, isso tudo é resumido em uma palavra que não consta
atualmente em um dicionário vendido na papelaria. A amizade entra em um patamar
apoteótico que nem as ondas do mar poderiam apagar todos os momentos vividos
escritos na areia de nossas vidas. Flashes passam-se em minha mente e lagrimas
percorrem meu rosto inchado lavando minha mente que a tanto tempo não tinha
motivos para tal ação. Um recreio, uma divisão de fone de ouvido, “open your
eyes”. Faixas de aniversario que não vi mais nenhum amigo fazer ao outro.
Ligações vespertinas que acordavam-me mas que as vezes intrigava-me quando não
as recebia. O momento que você mais precisou, um fim de namoro. Fico feliz por
eu ter estado ali, compartilhado todo o seu sofrimento, vivido cada drama, cada
palavra não dita ou redita que ao coração eram esdrúxulas e que não serviria
para mudar tudo o que aconteceu antes. Sabemos quando temos um amigo quando ele
nos ajuda sem saber. Com a gente tudo era recíproco. Saíamos como se precisássemos
esbaforir nossa rotina ( grande engano, eu vivia uma vida de ócio e não me
contentava), conversávamos sobre coisas que até duvidamos um dia contar aos
nossos cachorros, conhecemos as famílias. Eu tinha-te como irmã e nunca esse
sentimento mudou para outro qualquer, pois não havia carne, não havia atração,
havia simplesmente almas intermitentes. Eu olhava absorto como você se deu bem
com meus avós tendo até ganhado apelido, isso nunca mais aconteceu, acredita?
Dafine, você é a única exceção. Eu sentia-me honrado por ter sido acolhido por
essa sua família alegre, que todos os dias eram domingo, que as flores sempre
vão florescer e os problemas têm é que se fuder. Chegou a época do frio, o “fondue”
não foi mais degustado como antes. Nas férias não fui sustentado pelo macarrão
de salsicha. Encontro com alguns dos seus outros velhos amigos pelas ruas em períodos
muito esporádicos e fico pensando: “– Espero que eles estejam fazendo um bom
trabalho.” Olho fotos em redes sociais, fotos que eu estaria nelas, como era de
costume obrigatório. Tudo passou, muita coisa mudou. Porém quando vi um
cachecol mais espalhafatoso e pomposamente colorido que você usou naquele dia
dos namoros que eu, você e a minha prima fomos ao circo, eu não agüentei e dei
boas risadas. Você tornou-se uma “Bella”. Caso recorda-te de Crepúsculo , a
personagem viveu um amor intenso. Em Lua Nova ela sofreu, cometeu atos impensáveis,
foi ao chão. Em Amanhecer pode encontrar o seu amor novamente e o segurou com
uma garra de uma felina protegendo seus filhotes de um perigo iminente. Sabe aquele seu amigo? Ele está aqui. O seu
verdadeiro amigo e companheiro ainda está aqui. Devido a ataques de ciúme,
imaturidade, covardia e medo de perder a sua melhor amiga, ele reservou-se mais
e se fechou em algum lugar do coração que você tanto alegrou. Espero que um dia
possa-me perdoar por tudo, de coração. Esta é uma daquelas cartas que
prometemos fazer um ao outro todo o mês para que não perdêssemos contato
jamais. A história de uma amizade como a nossa eu contarei para os meus filhos,
ela ganhará o Oscar um dia. Se todos nós temos que ter esperanças, em um futuro
próximo só espero que eu não conte usando os verbos no passado imperfeito e sim
no presente do subjuntivo.
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