A Bailarina
Vejo a entrar na sala de dança. Músicas que apenas pessoas
com ouvidos refinados iriam gostar começam a tocar. Eu estava na esteira, a
maratona diária de corrida devia começar também. Às vezes a pego olhando
estreitamente para mim. Será que era realmente para mim ou eu estou sendo hiper
narcisista¿ Não importa. O importante foi ter visto sua bela íris em minha
direção. Começo a correr para tentar não pensar no assunto. Ela começa a sua
aula. Suas alunas no intervalo vêem ate onde eu estou para beber água. Eu a
procuro. Lá estava a bailarina rodopiando em passos simétricos e devidamente
ensaiados, como em algum espetáculo no Teatro Municipal. Tenho que me
controlar, as pessoas geralmente sentem-se intimidadas quando olhamos fixamente
para elas. Desculpe-me, olhos nos olhos para mim é um requerimento de
intimidade. Ela retoma a sua aula, minhas pernas já começam a doer de tanto
caminhar e correr. Faltando poucos minutos para o meu tempo acabar a vejo pela
janela olhando para onde eu estava de novo. Isso já está virando um jogo de
gato e rato. Eu a olho dançando. Na sua pirueta seu cabelo se solta. Começa a
tocar em minha mente “I can’t take my eyes off you”. Primeira pirueta, orvalho doce
pela manhã. Segunda pirueta, vento vespertino pelo vidro do carro ao por do sol
em uma auto-estrada. Confesso que foi uma das cenas mais bonitas que já vi. Seu
rosto foi modelado como aquelas bonecas de caixinha de música antiga. Ao olhar
fixamente desperta curiosidade, intimidação e até calma devido a sua beleza. Eu
não consegui escutar sua voz, entretanto acho que possui tons de canções de
ninar. Seu jeito é romântico. Nenhuma bailarina conseguiria ser mais delicada
que ela. Tento retornar a minha atividade, não vi a hora passar. Eu a olho pela
última vez por hoje e saio da esteira. A caminho de casa continuo a observá-la
no pensamento. Desejei essa noite possuir essa caixinha de música só para mim.
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