domingo, 3 de abril de 2011

Da Infância até a adolescência.


   Quando criança, assim que nossa lucidez humana deu seus primeiros passos, tínhamos tempo para tudo. Não tudo que queríamos, porém tudo que nossos pais queriam. Às vezes, nosso mimo ou nossa desdenha em certos momentos transformaram a nossa personalidade, que já estava sendo formada, ficar mais pesada, pois carregamos certos traumas e medos até a nossa adolescência ou até a nossa morte, caso não tratados. Aos nossos olhos, brincar, ir para rua jogar queimada ou futebol, pegar onda na praia, jogar “tazo” ou ver se o “tamagotchi” estava precisando de comida ou bebida eram as coisas mais divertidas se comparadas com os deveres de casa que éramos obrigados a fazer pelos nossos professores e pais.
    Não tínhamos noção do valor do dinheiro. Cinco reais eram gastos em balas “bolete” ou com o picolé “abracadabra” que pintava a língua. Nossos pais realizavam- se na gente. Mães querendo que sua filha bonequinha fizesse balé, para que um dia a mesma dançasse “Lago dos Cisnes” ou “O quebra- nozes”. Pais querendo que seus filhos jogassem futebol ou virassem um Marlin dentro de uma piscina, para que assim, poderem torna-se aquele filho “orgulho da família”.
    Crescemos e com a nossa saída da infância e seus encantos, entramos para a pré adolescência. A beleza como grau de comparação, o melhor da turma, o bagunceiro, o status financeiro, a inveja, as brigas, os palavrões mais indelicados e de baixo calão, os primeiros beijos. Íamos para a escola, não mais porque éramos obrigados, mas sim, porque queríamos sair de casa para não ficar aturando o irmão pequeno ou a mãe neurótica por limpeza. Criamos um amigo imaginário e imaginamos ser uma pessoa que queremos nos tornar. Alienação da mídia, ilusão do perfeito, espinhas. As roupas de marca eram essenciais, quem não as tivesse, estava fora do grupinho. A turma do bolinha era uma coisa do tipo: ou você faz parte, ou você não faz, agüente as conseqüências, proteja-se como puder e como melhor convêm. Tentamos nos tornar donos do nosso próprio nariz, briga com a família, choro, trauma, isolamento, ausência dos pais. Começamos a nos sentir mais sozinhos, mesmo rodeados por pessoas ao nosso lado.
    Talvez aconteça uma troca de colégio. A mudança da velha vida. Novos amigos, novos professores, tudo é um novo processo que você precisa ser necessariamente e indiscutivelmente o melhor, caso você não queria ser excluído. Se você tirar nota baixa, você é maneiro e descolado, caso tire nota alta e é elogiado pelo professor, você é o nerd da turma e sempre estará alguém em sua sombra e até mesmo em sua mente, se for possível. Não fugimos do primeiro amor. Do primeiro beijo de cinema atrás do ginásio de esportes. Do primeiro sentimento de fazer a coisa “mal feita” e escondida de nossos pais. A panelinha organizada por escalões começa a se formar. Você não pode agradar a todos. A rua continua sendo a sua melhor amiga, desde que vá bem em seus estudos. Aprendemos a “colar”, os professores quase enlouquecem, somos os lobos em pele de cordeiro. Aprendemos como passar a perna, a pintar a escola, quebrar a luz do teto, ser famoso ou não ser famoso. Temos duas vidas, a que passamos estudando na escola e da de dentro de casa. A internet é a nossa melhor amiga, as conversas familiares se extinguem dando lugar a televisão ou ao computador.
    Todos os pré adolescentes deviam ter um psicólogo em seu celular de última geração, dado por seus pais acéfalos. Não queremos dinheiro, queremos atenção e carinho. Queremos conversas e não broncas. Queremos ouvir que iremos viajar juntos e não sobre o que deixamos de fazer ou o que deveríamos fazer para ser uma grande pessoa na vida. Falta de comunicação. Professores se queixando que educação vem de casa, os alunos escrevendo bilhetinhos esculachando a professora e qual será o seu castigo perverso que será imposto a ela.
     Chegando ao ensino médio. Sua vida antiga, que era "horrível", torna-se perfeita, e a “nova” vida é horrorosa. Você estuda e não tem outra opção. Ninguém consegue “colar” em tudo. Aproveite o seu ensino médio ao máximo. Estude no primeiro ano, faça amigos que você carregará como lembranças especiais em seu coração, as aulas serão chatas, mas se você aprendê-las verá que no terceiro ano, vai ficar mais fácil caso você estudou bem no primeiro.
    Namore no segundo ano, aproveite seus amigos, faça programas juntos, vá a shows juntos. Este ano não será tão difícil, descubra seus limites, trabalhe nas férias, aumente o exercício físico para que você possa ver no futuro que se ama mais que qualquer outra pessoa poderá um dia te amar. Viva amores impossível, pois você terá tempo no futuro para revê-los. Comece a olhar seus pais com outros olhos, eles não são apenas dinheiro, eles já tiveram a sua idade, diga “eu te amo” gritando e não se arrependa no outro dia.
     O terceiro ano é tudo novo, de novo. Vestibular, aulas a mais, pais falando em sua cabeça até ela explodir. É hora de auto-descobrimento. Beije aquela pessoa que você nem conhece direito, ela pode ser o amor de sua vida, tire seu medo de transar
   Você chorará vendo as fotos antigas, lendo as cartas que poucas pessoas mandam hoje em dia, verá que perdeu muito tempo com pouca coisa, deixou de ser você mesmo, ou que perdeu aquela pessoa ao qual você casaria em Las Vegas na sua próxima viagem. Simplesmente, não deixe de sorrir, porque a vida adulta começará em breve. As férias estão aí, se acabe nelas porque você não será mais a protegida, você terá que ser seu escudo daqui para frente, a vida como ela realmente é. 


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