sexta-feira, 10 de junho de 2011

Galã Dry Martini

- Pensei que esse lado da festa estava vazio e esse deck mais vazio ainda, mas vejo que já tem gente.
- Vazio? Isso é uma festa da elite carioca. O que você esperava? Um par de gatos pingados?
- Que fumaça é essa? Você está fumando?
- Não, é o carro dedetizador que passou por aqui. Não o viu não?
- Você nunca fumou. Sempre falou que nunca iria estragar o esmalte de seus lindos dentes e de seu sorriso que tanto te orgulhas.
- Comecei há pouco tempo. Gradualmente foi virando hábito e, você sabe, hábitos são coisas que dificialmente conseguimos mudar em nós mesmos.
- Quando eu fumava você incomodava-me com suas ladainhas intermináveis sobre saúde. Não te recordas? Tive que ser grosso até, falando que quando me conheceu eu já fumava.
- Pois é. O problema é que saímos uma única noite. E eu só pedi para você não fumar por causa da minha alergia. Não queria ficar com o nariz como uma coelha perto de você, seu idiota.
- Você não muda nada. Sempre tentando se colocar por cima, ser superior a todos e principalmente, tentou ser durona demais para eu não te conquistar.
- Como te atreves? Eu só não queria ser mais uma em sua interminável e nojenta listinha de pessoas que tu carregas na memória de seu celular. Eu não queria ter sido a outra que iria ficar esperando a sua ligação no dia seguinte. Não queria ter que ficar encarando as outras pessoas na rua e tendo que controlar-me devido ao meu ciúme doentio. Eu não queria ser aquela que apenas foi uma diversão ou cobaia para cair em uma das grandes conversas do sexo masculino.
- Mas você cedeu. Você me beijou quando nos despedimos. Você queria mais.
- Quer saber? Eu queria mais sim. Eu tentei me preparar antes. Eu sabia que você estava falando todas aquelas coisas que eu queria ouvir, ligando nos momentos que você sabia que eu estava estudando e queria ouvir a sua voz. Eu me fiz de “difícil”. O que eu ganhei em troca? Uma simples ligação de boa noite e um prazer em te conhecer. Você esperou muito de mim? Desculpe, ainda sou humana, queridinho.
- Eu não esperei nada de você. A propósito eu não sei nem o que eu queria na época. Recordo-me que queria namorar.
- Que lindo. Falha de memória logo agora, “rude boy”? Está aí o problema em lidar com o sentimento dos outros. Ficamos tão egoístas correndo atrás de uma sassiação avassaladora dentro de nós mesmos que esquecemos que a outra pessoa também tem sentimentos, expectativas, espera de um mínimo de respeito.  
- Eu não queria te magoar. Sabia que você era para namorar, porém não queria ficar muito preso. Eu sou aventureiro e bonito. Preciso curtir muito a minha vida de solteiro e minha liberdade. Mesmo que isso me custe agora achar alguma razão para que alguma coisa me mostre onde a felicidade está.
- É verdade, eu fui a tonta. Quer saber? Vou parar de fumar a partir de amanhã.
- Nossa! Quanta rebeldia! Por que isso tudo, gatinha?
- Simplesmente porque eu não quero chegar a sua idade fumando em um local afastado, sozinho, remoendo coisas que já se passaram e tentando achar alguma coisa que faça sentido para ser feliz. Eu sou feliz, sei que sou. Uma dica: Não é o Dry Martini a bússula para felicidade. Aliás, você fica muito bem com essa taça. Não sei quem é o mais amargo, se é seu veneno galantiador que escorre de sua boca quando queres. Segue na sombra, se não o sol pode queimar esse seu cabelinho pastoso de gel. Lindinho. Imitação de Shakespeare barata do mercado popular.Um beijo.  

 

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