terça-feira, 7 de junho de 2011

As Cariocas: Paty – a mais linda da cidade.


Ontem acordei com um desafio a fazer, lembrado barulhosamente pelo meu celular: visitar a minha avó que mora no outro lado da cidade. Minha cidade não é muito grande como as grandes metrópoles regionais, mas quando você depende de usufruir de transportes públicos, cada milha percorrida torna-se quase uma passada de tartaruga. Digo desafio, pois é em um bairro longe, se não, trocaria para outra hora e nem precisaria tomar banho gelado e vestir minha cueca Box AD de um ex relacionamento meu.  Foi engraçado de lembrar. A cueca é preta, mas ela gostava quando eu usava vermelho, dizia que era a melhor cor para mim, um pecado.  Entretanto deu-me preta usando a justificativa imatura que quando terminássemos não queria pensar eu com outra garota usando sua cor predileta em mim. Ela se foi e a cueca ficou. Sob forte neblina coloco um agasalho bem quente, perfume e um pouco de coragem na cara para encarar a rua e seu vento gélido. Entro no segundo ônibus, encontro com a minha avó, almoço e retorno para os meus afazeres estudantis pela tarde. Olhando pela janela do ônibus eu a vejo. “Não posso acreditar no que eu estou vendo. É realmente ela depois de todo esse tempo?” Fico mais frio que um iceberg.  Abaixo a cabeça e finjo estar estudando uma apostila de direito. Ela chega até a roleta, olha para o trocador e menciona um boa tarde e implanta um sorriso naquele rosto modelado pelos deuses. Ela senta-se distante. Eu não consigo mais pensar em nada. Minha blusa estava do avesso. Eu a olho passar, óbvio que ela não se lembra mais de mim, já passa mais de um ano que não nos vemos. Ela desce em seu bairro e eu a olho de relance. Calça jeans, blusa de gola e um casaco por cima, salto alto nos pés. Certamente estava voltando de seu almoço e mais tarde iria para faculdade. No ônibus começou a velha história a ser refeita novamente em minha cabeça. Eu a conheci quando tinha 17 anos através de uma amiga distante. No nosso primeiro encontro eu não tinha visto nenhuma foto dela, apenas de seu corpo, confesso calorosamente. Não fui nada arrumado, nem estilo “garoto de programa” (aos alienados: calça jeans e blusa preta, de preferência, pólo) eu estava. Quando entrei em seu carro eu tremi e engoli um: “Uau! De onde você caiu? Do Olimpo, foi?” Cabelos lisos castanhos claros com pinceladas loiras, olhos azuis bem escuros (ou seja, nada original, pois eu só tinha visto olhos azuis de piscina), dentes brancos e um sorriso que desarmava ate um assaltante. O ar condicionado exalava um cheiro de hortelã e perfume Grabiela Sabatini. Nunca soube sua profissão ao certo, ora ela dizia fazer administração, ora direito. Não me importava. Eu estava mais preocupado em ver se eu ia receber meu primeiro “toco” do ano ou se ia ganhar na loteria. Para sorte de um, alegria minha, eu ganhei. Não podíamos fazer tudo, mas tudo que fizemos valeu por todas as coisas que eu fiz no ano. Depois de alguns meses nos encontramos de novo. Eu estava entrando em um relacionamento, mas não queria perder a chance de sair com ela novamente. Ficamos dentro do carro em uma das ruas do Belvedere. Dava para ver todas as luzes cintilantes das estrelas acima e das casas abaixo. Eu sabia que aquele dia poderia ser uma despedida. Certamente foi. Com a minha aptidão nata e super desenvolvida de descobrir as coisas, com ela não podia ser diferente. Paty, como gostava de ser chamada, quis voltar para o marido. Sua família estava a obrigando  à fazer aquilo. Eu não tive o que dizer. O que eu esperava afinal? Que uma pessoa adulta trocasse tudo para namorar um fedelho que mal sabia o que é se tornar um adulto na vida real? Um garoto que só pensava em estudar nos finais de semana e beijar na boca durante a semana? Eu me iludi muito, como sempre. Voltando para casa hoje, passei pela pracinha onde nos conhecemos. Deitei no banco. Senti o frio penetrar em meus pulmões. Deixei que Paty trouxesse à tona todas aquelas sensações que ela era capaz de provocar em mim. Talvez eu nunca mais a veja, talvez nos encontremos um dia em algum tribunal. Ela foi a menina mais linda, encantadora, educada, simples, moderna que eu já tive ao meu lado. Não vou deixá-la sair da minha mente. Pequenas paixões é o que faz o nosso barco da vida velejar. Fizemos três viagens. Para que mais? Um segredo: Como foi bom estar a bordo com ela de novo hoje, mesmo que em memória. A garota que é o sonho de qualquer ser, pegou o barco de uma rota distante.      

 "As paixões são como o vento inflando as velas dos barcos. Podem até fazê-los naufragarem, mas se não fosse ele, não haveriam passeios, aventuras e descobertas". (Voltaire)




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