segunda-feira, 30 de julho de 2012

- 100 dias com ela

       “Eu hoje joguei tanta coisa fora e vi o meu passado passar por mim”. Uma semana depois que tudo acabou. Nenhuma ligação, nenhum ato, nenhum sinal que fizesse sentido aquilo que acho que foi perdido. Tento ser o mais forte que já consegui ser. Falho e vejo que sou mais fraco que pensava. Vejo nossas fotos. Poucas, porém perfeitas. O seu sorriso calmo, os seus olhos que mudam de cor, seu cabelo sempre ajeitado, o jeito que me envolve em seus braços. Aqueles mesmos braços que me envolveram em 4 meses. Onde foi que deixamos os nossos objetivos se desviarem¿ Em que parte do passado acometeu esse futuro de hoje? Impossível ainda não pensar em você.
      Falar do que fomos, em verbos no passado, o meu maior medo concretizado. Fizemos o que fizemos, vivemos e vivemos e acabamos no mesmo lugar que começamos... Separados. Sei que de nada mais vale nosso relacionamento agora. Porém, valeu para mim enquanto foi infinito. Vivi os melhores dias de amor. Passei pelas tormentas da paixão. Dormi no paraíso com você deitada em meu peito. Acordei, por vezes, em dissabores mal humorados matinais. Fizemos da nossa história um conto onde somente nós poderíamos protagonizar o que achávamos melhor. O conto que no roteiro estava para sempre. A vida seguiu e decidimos acabar com a fantasia infantil da paixão e ver que o tudo não foi o bastante para sustentar o nós.
      Não sei como sobrevivi essa semana. Fico feliz que ela tenha passado. A semana do vazio, do sentimento de perda, do recomeçar. Foi estranho acordar sem a sua mensagem de bom dia que fazia meu coração se alegrar a cada manhã e esperava por ela ansiosamente. Não usar mais a nossa aliança e ver que o “eu e você ...” ficou guardado junto com suas cartas na minha gaveta. Perdida como a minha mente ficara. Trabalhar sem ter paciência, apenas vontade de voltar para a cama e não pensar em mais nada. Voltar a ter os velhos hábitos, rever os velhos amigos e parentes que ficaram de fora da rotina quando estávamos juntos, conciliar os velhos planos com o futuro ainda incerto.
      Ainda escuto “Tendo a lua” e canto exatamente como você cantava, daquele jeito engraçado e sorrindo como criança. Indago as pessoas com cara de “que? hem hem?”, pergunto se “quer não?” ou uso verbosidades e jargões. Aprendi suas falas, seu jeito, o que você costuma fazer. Nunca aprendi, pelo visto, a lidar com você. Procurei achar o seu manual e acabei vendo que quem precisava de um era eu. Ando de carro e lembro que sempre eu andava com a mão na sua perna. Quando você podia eu recebia um carinho nela. Lembro do "Titanic" e a sua primeira recomendação ao lavador para não apagar o meu nome no vidro. Da primeira vez que fizemos amor e do medo do dia seguinte. De quando viajamos e das inúmeras vezes que saímos para comer alguma coisa.
      Engraçado como só penso nas coisas boas. Sei que enfeitamos muito nossa relação. Tentamos deixar muita coisa debaixo dos panos para não magoar um ao outro. Alguém puxou o tapete e um dia acordamos com a poeira debaixo de nossas mãos entrelaçadas. Pisávamos em ovos, mudamos nossa personalidade, abrimos mão de coisas que não deixaríamos para trás. O eu e o você foi se transformando em atores de novela e não a realidade. Um dia você me falou que não queria mostrar meus defeitos para que não perdêssemos essa fantasia toda. Hoje, eu entendo isso. Deixamos que nossos defeitos, medos, frustrações e inseguranças tomassem conta de nosso cotidiano. O cotidiano que, um dia pensei, poderia ser de rotina, tendo um ao outro para estar quando o dia terminar.
      Mesmo sabendo que nosso namoro tinha prazo de validade, decidimos vivê-lo até a última gota ser sorvida. Não brigamos, não discutimos ou deixamos palavras horríveis vir a lume. Apenas vimos e fim e nos calamos. Como em um filme onde o final é completo, não terá uma regravação e foi de inteiro perfeito. Hoje começa aquele tempo que você pediu. O tempo do nosso tempo.
      “E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz. Querendo ver o mais distante sem saber voar.” Eu vou guardar e lembrar cada palavra, cada gesto, cada “eu te amo” seu dito. Não é porque acabou que não deu certo. Deu certo sim, enquanto durou. Sinto sua falta ainda, revejo suas fotos e revivo nossos momentos em momentos que me pego olhando para o nada e sorrindo. Levanto a cabeça, suspiro e vou viver. Você sempre será a parte mais importante de mim e o que há de mais puro. O meu sorriso de recordação. Se algum dia alguém me perguntar se eu sinto saudade de algo, certamente direi que sinto saudade da saudade que eu sentia por você enquanto estávamos juntos, do amor juvenil e sem fronteiras que jorrava em meu corpo, do sorriso de uma criança, do dia que vimos a estrela cadente e o meu pedido feito, do melhor abraçado do mundo, do “eu te amo e sinto saudades suas, meu menino”, enfim, dos cem melhores dias da minha vida.      

“Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua merecia a visita não de militares, mas de bailarinos e de você e eu.” 


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