“E se tive problemas algum dia, não foi por falta de
felicidade”.
Clóvis, já é dezembro e passou um ano que passei a ter meu
blog. Pela milésima vez eu assisti “Divã” hoje e não tinha forças e nem coragem
para voltar a escrever como eu escrevia, porém senti uma vontade imensa de
falar sobre mudanças. Sobre as minhas mudanças. Eu sei que a vida muda, a mina
pode estourar antes da hora ou não e o mapa do destino nunca pode ser traçado
esmeradamente. Eu fui aprendendo a andar pelo rio por onde a vida passa. Eu me
sentia um ninguém e, hoje, descubro uma pessoa dentro de mim. Várias por sinal.
Com muitas facetas, com apenas um caráter, se é que isso é possível. Costumo
brincar que sou uma hipérbole quando brinco de criança, metonímia quando começo
a contar a minha vida, um paradoxo quando desejo exprimir meus sentimentos e
vontades. Não sou a soma de minhas partes, elas se contradizem a cada respiração
ou segundos passados no relógio. Quando eu comecei o “Comer, Rezar, Amar” sob o
meu ponto de vista eu não esperava mudanças. Era apenas um livro. Um livro
conseguiu abrir as portas da minha mente para a leitura, para os filmes, para o
saber perdido entre as eras. Eu só sabia ler, chorar, comer incontinentemente
bobeiras. Lutava com os meus medos, com o meu passado, com o meu hoje perdido e
com o meu futuro a beira de um abismo. Eu me perdi de mim. Olhava no espelho e
ele não me dava a imagem daquele Arthur que um dia eu fui. Hoje eu sou um
Arthur que nunca me imaginei sei. Eu tive que construir o meu “eu” basilar. O
meu alicerce. O que eu queria ser, o que eu não queria ser, se a minha vida
será sempre guiada pelas pessoas ou me perderia na liberdade, queria comer boas
comidas e encontrar o prazer de comer bem e saudável, ter um reencontro com uma
pessoa que briguei sem motivos e que hoje Ele é meu melhor amigo e,
principalmente, encontrar o primeiro amor de minha vida e não mais um caso,
mais uma cama ou uma simples decepção. Dizem que o primeiro passo é o mais
difícil. Posso afirmar que o segundo é mais ainda, porque para isso você
precisa ter suas vontades e emoções mais arraigadas em você mesmo, sentimentos
profundamente fixos na natureza do seu ser. A cada dia eu lia um capítulo de um
livro e desejava contar um capítulo da minha vida. Não que eu seja um exemplo a
seguir ou me sinta extremamente prepotente dizendo que a minha vida seja
divertida, chata, quente ou fria. Eu queria mostrar histórias, ora reais, ora
sendo pitadas com imaginação, que já me aconteceram e, de alguma forma,
transmitir o enredo, o começo, o fim ou a moral de cada uma delas às pessoas.
Não sou bobo de acreditar que fiz algo grandioso, mas sei que alguma parte do
planeta a história se repete. A história é cíclica e já é ratificada
estudiosamente por Maquiavel. Eu pensava que viajar resolveria meus problemas.
Então arrumei minhas malas e fui para Angra. Só tenho boas recordações. É bom
ficar lembrando os crepúsculos que presenciei na praia, de Campos do Jordão, de
como eu me perdoei por ser desse jeito e pensar dessa maneira, em como eu me
encorajei a mudar quando vi meu coração bater mais forte por alguém que conheci
lá e nunca mais vi. Eu pensava que viveria tudo sozinho. Dei-me conta que ao
meu redor tinha mais gente que eu esperava. Quando penso em humildade eu me
lembro da menininha que veio ao meu encontro, arrepia-me só de pensar, quando
eu estava na praia e me olhou e disse algo tão lindo que não consegui guardar e
voltou a catar suas latinhas. Eu a reencontrei novamente um dia na praia e só lembro-me
de uma resposta dela quando perguntei onde estava o pai dela: “Ele está lá em cima,
tio! Depois eu vou encontrar com ele para tomar Coca-Cola“. Na hora eu não me
dei conta. Eu procurei por alguém e não achei. Segui o seu dedo apontado para a
praia e me dei conta. Ela apontava para o horizonte, para um céu azul e
límpido. Hoje eu sei o que isso significa e choro ao saber quem é o Pai dela.
Somos todos filhos dele e, às vezes, nos esquecemos de agir como filhos
genuínos. Naquele dia uma chama dentro de mim ascendeu-se e descobri que esse
fogo se chama Fé. Arde e não vejo. Sinto, mas não posso distribuí-la a mais
ninguém no meio físico. Com o amor de Angra eu tentei mostrar para mim mesmo
que eu poderia ser um exemplo de pessoa para ter uma relação amorosa. Mas quem
sabe realmente como amar corretamente? Então decidi me amar primeiro. Voltei a
correr. Endorfinas sendo liberadas a todo vapor. Eu não ligava de estar acima
do peso. A felicidade não é medida em percentuais de gorduras e muito menos a
quilo. Lembro que com dor no coração eu
voltei para passar o Natal em Volta Redonda. Dor não por voltar, dor por ser
tão pequeno e frágil quando o destino e nossas escolhas caem sobre nós. Eu
estava muito ansioso para o Cruzeiro. Afinal, era Buenos Aires! A cidade que
mais queria conhecer na minha adolescência. E realmente, ela me deu tudo que podia
dar em dois dias. É como o último pedaço de chocolate, ele te atiça a comer
mais. Com essa viagem foi a mesma coisa. Chega a ser mágico e alucinógeno
quando me lembro de como a Lua refletida no mar pode ser vista com aquela
música “A Lenda” à voz de Roupa Nova ao fundo. É estranho pensar no homem no
último deckexperimentei. Eu descobri o que era pagar
caro e compensador olhando para a rua e pensando na vida. Anotei em algum lugar
que voltaria lá quando estivesse namorando. Quero amar naquela cidade que tudo
cheira a desejo. Quando aportei novamente na vida real, fui passar uns dias na
Ilha Grande. Eu só sabia nadar e pensar. Não fazia mais nada. Eu ainda não
sabia o que queria e sentia medo. Muito medo. Medo até da minha sombra. Parece
que tudo que sempre joguei para debaixo do tapete foi, de uma hora para outra,
descoberto e eu estava sendo interrogado minuciosamente sobre todos os fatos,
falhas e vontades. Sonhamos tantas coisas quando somos adolescentes. Ninguém
nunca me falou que exigiriam tanto de mim quando eu me tornasse um aspirante a
adulto. Que eu teria que escolher o que seria da minha vida e que isso poderia
me levar ou a minha ruína total ou ao meu sucesso. Eu escolhi não escolher. Não
agüentava mais a pressão, pessoas falando o que fazer e o que você nunca
chegará a ter. Sempre levei em conta o refrão que nunca deixe que lhe digam que
não vale à pena acreditar nos sonhos que se tem ou que os seus planos nunca vão
dar certos ou que você nunca vai ser alguém. Comecei a estudar italiano,
viajava sem sair do lugar 3 horas da minha semana. Dediquei-me ao Inglês.
Tentei fazer alguns cursos que não deram muito certo. Acordei pensando em
Justiça e fui prestar vestibular para Direito. Passei. Comecei o caminhar do
meu futuro. Encontrei-me novamente. Já faz parte de mim a Justiça com o seu dar
a cada um aquilo que é seu, sendo assegurada com certa segurança, protegida sob
a forma de leis dentro de um ordenamento jurídico garantido por um Estado que asseguram
direitos e lhe dá deveres. Eu estou fazendo o que gosto e não deixo ninguém
interferir nisso. Tornei-me mais egoísta quanto a isso. Tive medo de perder
meus amigos. Tive medo de perder tempo para o tempo. Toda hora é uma hora a
menos de estudo. Tentava não ser tão excluído do mundo, focado apenas em meu
objetivo. Respirei e já acabou o primeiro período. Durante esse período, eu fui
tirar minha carteira de motorista. Foi um dos momentos mais alegres que já
passei na minha vida. Encontrar pessoas que gostam da vida é como encontrar
dinheiro na rua. Minha instrutora prática foi umas das únicas pessoas que já
confiaram em mim e hoje eu a tenho como uma mãe. Nossas aulas eram sempre na
parte da tarde. Não conseguia parar de rir, de falar sobre a vida, de dividir
momentos, de quebrar paradigmas, de mostrar que nem todo mundo é igual a todo
mundo. Chorava por dentro quando ouvia palavras que nunca ouvi de meus próprios
genitores. Se hoje eu só dirijo falando ou cantando é por culpa e mérito dessa
pessoa maravilhosa que conheci. É disso que eu sinto falta e quando acontece eu
faço questão de guardar em mim, as surpresas da vida. O que ela guarda no fundo
da xícara e cabe a nós o arbítrio de mexer a colher e misturar o doce ou deixar
do mesmo jeito que está e ficarmos parado. Quando tudo estava para acabar esse
ano, eu me via pensando em Deus. Lembrava da vez que chorei no Santíssimo, das
coisas que pedi a Ele todas as noites, dos perdões que o rogava por ser dessa
maneira e sempre querer mais e mais. Eu me vi tendo Fé e sentindo-a. Na última
missa eu só tinha o que agradecer. Ao meu lado eu sinto que tem alguém. Sinto
que tem uma pessoa que pode me dar o mundo em minhas mãos como um desejo
infantil. Ele sempre fez o que foi importante para mim. Um pai. Antes de tudo,
um Amigo. Como gratificação eu fiz amigos esse ano. Pessoas que pretendo levar
para a vida inteira se deixar. Fiz muitos inimigos, me tornei fútil para
alguns, perdi contato com outros, exclui pessoas que querem tomar conta da
minha vida, refiz amizades, amenizei a distancia que me separava de alguns,
tenho mais amor a minha família, tento perdoar quem já me fez sofrer, sinto
pena do que lembro e de algumas pessoas, e continuo sonhando com a minha filha.
Foi um ano bom. Eu comi, eu rezei e não amei. Ainda não estou preparado para
isso. Prefiro ficar solteiro, me cuidar, me entender e deixar que o tempo
capriche e faça seu trabalho. Eu sei que eu não sou uma frigideira sem a sua
tampa e nem quero muito menos ser a outra metade da laranja de alguém, porque ninguém
sonha em ser uma laranja completa por agregação de duas partes distintas e sim
por união completa de um ser sendo o mesmo que o outro. Eu continuo esperando.
Mas dessa vez eu espero sozinho. Aprendendo como deve ser e não treinando
sempre para ver o resultado. Chega de cobaias. Não tenho pressa. Única coisa
que teve pressa esse ano foi ele mesmo. Mas a cada dia eu senti mudanças. Cada
dia era uma análise, série na academia, humor diferentes. De adolescente para
adulto, mas nunca deixando de viver e recordar as épocas que já se foram e
fixando raízes para um futuro bom. Boa Noite, Clóvis! Espero-te na ceia de
Natal!
primoo vc escreve muito bem que orgulho ;D
ResponderExcluirbeeijos amoreco! kero